Não havia nada ainda a ser descoberto.
Trancada em si, tropeçando na mesmice ela procurava achar a saída de toda aquela insignificância e seus anseios.
Pensava, e isso fazia como quase por um instinto, era na verdade o seu alimento porque não acreditava na desimportância das coisas.
Por mais que não existisse mais alantóides, ficava lá, ficava guardada como uma película de sujeira fundida a uma placenta.
Nem se movia, não havia aceleração nem tração, nem razão sequer para que tivesse inércia, era quase um nanoátomo “fantasma” daqueles que só se ouviam de se ver em filmes de ficção, porque de tão pequenino, deverás nem fosse real.
Ninguém lhe dizia o que era preciso para se ouvir. Todas as suas desgraças eram-lhe convenientes, tanto que nenhuma lei de Murphy explicaria esses fatos que a natureza por milésimos de segundos fingia acreditar.
Nunca se viu a mutação de seu sofrimento em um sorriso, parecia ser amorfa, tanto que resolvera guardar seus segredos em uma caixinha dentro de outra pessoa, e conseguia ao mesmo tempo ocupar seu lugar no mesmo espaço, por receio que outro alguém por ventura conseguisse a descobrir.
Na lentidão de seus movimentos uniformes, eram tudo apenas vetores sem direção, não havia nem forças para serem medidas.
Sentiu em algum momento uma coisa absurdamente indescritível. Era quase uma tensão superficial, não, não era, era mais como uma partícula em queda-livre, mas ao mesmo tempo sabia que fazia parte de cada átomo que existia no mundo.
Não era sabida exatamente a origem dessas sensações, se era do ego ou do útero, pensava até que podia ser de algum lugar distante e desconhecido, da qual nada e nem ninguém ou coisa alguma fizesse parte, apenas ela.
Aquilo não era também na realidade um mundo, porque não havia tantos carbonos, oxigênios e aminoácidos para isso, não tinha nem uma bactéria para que considerássemos a existência da razão da vida.
Não era nem o frenesi, nem a loucura proporcionada por um ritmo novo, não tinha nem vícios, nem nada, nem alimentos nem abrigos.
Era tudo um buraco negro, seco e totalmente sem sabor, tão inodoro que chegava a ser bizarro.
Já que nada era conduzido, não era preciso medir seus extremos, então não precisava nem cálculo algum para seus circuitos retroativos.
Era apenas percebida a ausência, e na verdade umas finas pontadas de inexatidão, porque não era possível enganar tantas leis no universo.
Ela conseguia ser tão bipolar que sem força alguma, mudava as constantes das cargas, e o fazia sem o auxílio nenhum nem de uma mitocôndria.
Quando se permitiu ao dioptro plano, viu que não passava de milhas por segundos, de metros e quilômetros, de eritrócitos correndo mais que plaquetas na velocidade da luz, que de tão insignificante chegava a ser neutra, era nula e totalmente paralisada por uma inércia inexistencial.
E tudo isso tinha acontecido de forma acidental, ninguém sabia ao certo todas as causas eram desconhecidas e indeterminadas, tanto que afetavam todos os seus elétrons de forma imprevisível.
Se não era um chip, nem uma organela, nem um plano óptico diferente, poderia ser apenas um impulso de energia, oriundo da força resultante da sua massa em colisão.
Chegava a ser uma perturbação, quase se propagava, o faria se conseguisse transmitir-se para qualquer matéria.
Estava quase de saída, mas preferia ficar lá, só para não ter que romper o córion. Nunca nem chegou a ser uma blástula, estava em completo início de metamorfose, era apenas um anexo embrionário, tão vazia que chegava a ser oca bem lá dentro.
Não tinha unhas nem cabeça, nem pernas nem coração, nem pulmão, nem lábios para tocar, não tinha nada alem de dúvidas e ilusões em forma de miragens.
Acordou um dia e percebeu que não havia nascido, e de tão presa percebeu que nunca, nada daquilo tinha realmente acontecido, e isso tudo era porque não tivera a coragem de abrir a barreira, não lutou porque preferia não sabia se iria perder.
Apenas amou pela última e somente única razão, pois sentiu seus hormônios sobre a pele do corpo de uma flor, e naquele instante, e apenas por um instante esclareceu todas as suas dúvidas naquela pessoa, mas resolveu deixar aquilo passar e viu então que nunca mesmo existiu.
Foi apenas um suspiro gritando em seu silêncio para não haver eco nem reverberação, foi apenas um pensamento, uma lembrança, foi um apenas e somente